segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quem é o culpado?

Quando lemos reportagens nos jornais ou vemos na TV falarem de crianças jogadas no lixo, todos julgam a mãe “culpada” por esse ato. Entretanto, alguém perguntou em que condições essa mulher cresceu para culminar num ato desumano desses? Teria a sociedade ou algum voluntário estendido a mão para que essa pessoa não terminasse no fundo do poço da sociedade humana ao tentar matar seu próprio filho numa caçamba de lixo? Chegamos ao absurdo de uma câmera de circuito interno de TV, instalada para proteção contra meliantes, tornar visível para todo o nosso País, uma mulher e um filho invisíveis aos olhos de nossa sociedade! E mais, quem salvou essa criança é uma pessoa cuja profissão é de dar ensinamento, educação e cidadania e que vem ficando invisível aos olhos da população: um professor! Deus, a que ponto nós chegamos! O pior cego é aquele que não quer ver!

É muito fácil julgar. Principalmente, nós que somos entupidos, diariamente, por tanta desgraça e sensacionalismo. São páginas e mais páginas de desgraças, blocos e mais blocos de sensacionalismo barato com a crueza da vida humana. Costumo dizer ao ver os telejornais: Hoje duzentas pessoas morreram, mas ninguém relatou um nascimento sequer! Nascer, embora seja preciso, não é vendável e não dá IBOPE. Então, facilitamos nossas vidas e condenamos sem pensar nas conseqüências dos nossos atos. Isso tem nome: Fuga!

Por isso, nós que andamos na sociedade na contramão, perguntamos o que foi a vida dessas mães? Será que alguém procurou saber? Como foram as vidas destas desde o útero? Apenas mais um filho numa prole de vários, quase todos indesejados ou “acidentes de percurso”? O que essa pessoa teve como referência de família, lar, infância? Necessidade, fome, frio, medo? Alguém estendeu a mão para essa pessoa quando ela se viu em problemas? Teria ela apelado para o esquecimento das amarguras da vida com uso de drogas? Será que teve amigos? Não sabemos. Tudo leva crer, através de estudos e pesquisas, que pessoas que sofrem na infância qualquer tipo de maltrato é um potencial agressor ao crescer. E, para quem teve o lixo como vida, para quem foi tratado sempre à margem da sociedade, por que não colocar seu filho, tão indesejado quanto ela, ou que passaria pela mesma vida triste, invisível e sem perspectiva, no mesmo berço onde cresceu se este foi o único que conheceu?

Chamamos, portanto, todos os que nos acompanham para uma reflexão sobre esse assunto. A vida é complexa, existem várias dificuldades a serem vencidas. Mas, viver é preciso! E ajudarmos uns aos outros torna esse fardo, para uns, mais fácil, proporcionando para quem se preocupa e ajuda uma satisfação de estar salvando, possivelmente, uma geração. Portanto, antes de julgarmos, olhemos para nossas atitudes para com o próximo. Pode ser que, assim, ajudando e compreendendo o passado possamos salvar o futuro.

Um abraço,

Pedro Angelo

Um comentário:

  1. Doutor Pedro Ângelo – caro amigo das horas que mais precisei na minha tarefa de gestar, parir e cuidar dos meus dois filhos, parabéns pelo belo artigo que tão profundamente nos pega em nossos sentimentos.
    É hora de mudança! E para que outras tantas protagonistas do teatro do abandono, sempre presente em nossa sociedade brasileira, não venham a dar a cara em imagens de rua, devemos dar o salto para o entendimento de que o abando está inscrito na história da nossa própria nação.
    O que dizer do abandono em relação à população indígena, também o abandono em relação à população negra, compulsoriamente trazida para cá e escravizada, também o abandono das mulheres cotidianamente violentadas, e o abandono das crianças brasileiras esquecidas, ainda o abandono da população idosa que nem em câmeras de rua são vistas, assim temos uma lista interminável de abandonos que culminam sempre na externalização desse sentimento com a demonização do outro em sua atitude cruel. No entanto, o que fazemos para que expurguemos da nossa história tantos abandonos?
    Devemos dar um salto em nossa atitude política e, para que isto seja possível, temos que refazer nossa capacidade de análise, não a partir do pensamento mais fácil, mais superficial, mas temos que ir além em nossas considerações, só assim será possível a construção de uma nação talvez do acolhimento.
    Um grande Abraço,
    Fabiana Malha

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