segunda-feira, 23 de maio de 2011

Família: Os pilares que nos sustentam para a vida toda


“Todo dia, bem cedinho gosto de acordar. Pra beijar o meu paizinho que vai trabalhar.

E quando chegar a tardinha tomo um banho então. Pra esperar o meu paizinho fico no portão.

E minha mãezinha bem contente a cantar... Põe flores na jarra e põe a mesa pro jantar.

E o meu pai chega bem contente a sorrir... E depois da janta eu levo um beijo e vou dormir...”

Essa canção de ninar foi-me ensinada por minha mãe que cantava para eu dormir. Sou do tempo em que, apesar de minha mãe precisar trabalhar fora para ajudar o sustento da casa, nós tínhamos um conceito de união familiar muito forte. Éramos três: papai, mamãe e eu. Depois, ao longo do dia, meus pais trabalhavam fora e eu ficava com minha avó. Tinha as minhas responsabilidades, aulas extras, estudos, como qualquer criança de hoje. Meus pais chegavam juntos do trabalho, coisa rara nos tempos modernos e o jantar era o momento mais feliz que me lembro do dia, pois todos contavam suas aventuras e desventuras, todos tinham seus ensinamentos, todos tinham seus erros comentados, seus problemas relatados, mas acima de tudo, todos tinham a mesma atenção. Isso sem televisão, sem videogame, sem nada que pudesse interferir aquele momento familiar e só nosso. Na hora certa, dava boa noite para meu pai, minha mãe me colocava na cama e ao som de uma cantiga de ninar eu me sentia segura para dormir.

Casei-me e meu marido teve uma criação totalmente diferente da minha. Desgarrado, vinha de uma família onde ser independente era ser sozinho, da hora que acordava até a hora de deitar, não importando os problemas passados. A solução teria que vir ou não, sendo certa ou não, conforme sua capacidade de resolução. Acho excelente no que tange a criar a capacidade dos filhos de pensarem, mas uma faca de dois gumes, pois a solução poderia ter sido a mais fácil, como não estudar, roubar, se drogar. Graças a Deus, juízo deve ser hereditário e, se não for, ele teve bastante, pois se tornou um homem bem estruturado, pragmático ao extremo, com o defeito único de não compartilhar conquistas, problemas, mas exigir demais daqueles que o cercam.

Casamos e os filhos vieram. Eu com planos de que, um dia, meu filho cursasse uma universidade, se tornasse alguém. Ele, pragmático, achando que nosso filho se daria muito melhor abrindo um boteco e sendo independente o mais cedo possível. Pensei que fossemos ter muitos atritos. Eu querendo as melhores escolas e ele achando que a escola tanto faz se particular ou pública, já que é o aluno que faz ou não seu caminho de sucesso. Ele era o exemplo vivo disso enquanto eu era o exemplo das melhores instituições educacionais que meus pais puderam pagar. Mas, confesso, não esperava que, um dia, ao fazer nosso primeiro filho dormir, cantando a canção de ninar com a qual comecei, fosse ver um homem racional se debulhar em lágrimas. Não sabia se consolava meu marido ou se continuava e deixava toda a repressão ou ausência dos sentimentos embutidos naquela canção, como sentimentos de união familiar, sentimentos de necessidade de afeto, de carinho de pai e mãe, de momentos felizes em grupo virem à tona. Optei pela segunda: deixei-o curtir aquele momento íntimo e sofrido.

Daí para termos nossos momentos juntos no jantar, momento que continua até hoje, apesar das dificuldades dos tempos, quando se sai mais cedo de casa e se chega mais tarde ainda, foi um pulo. Nessas horas meus filhos contam suas aventuras, suas conquistas, suas derrotas, piadas, pedem conselhos e, da mesma forma, eu e meu marido fazemos o mesmo. E eles, na inocência da idade, nos ensinam, nos divertem e nos trazem os sonhos acalentados durante nossa infância e não realizados para, quem sabe, realizá-los com eles.

O que eu quis mostrar aqui não foi o fato de uma canção de ninar ser o fator de mudança de um homem. Quis mostrar que duas famílias diferentes se juntam para formar uma. Se um dos pilares não for equilibrado, o outro pode ruir. Eu era família e sentimento e ele era racionalismo e pragmatismo. Ao inaugurarmos uma família, o meu estilo de criação, com afeto, com emoção, falou mais alto. Ele sentiu falta disso a vida inteira e no nascimento do filho, na responsabilidade de dar o que de melhor podia, ele explodiu suas carências. E nessa explosão, nossos pilares se igualaram e, até hoje, sustentam nossa casa. Hoje, sonhamos juntos pela melhor educação para nossos filhos ao cobrarmos as notas na escola. Somos pais participativos não só na educação, mas em todos os momentos da vida de nossas crianças.

Vim de uma família onde o nosso lema era um por todos e todos por um. Éramos três e éramos chamados, carinhosamente, de Os Três Mosqueteiros. Agora, somos o time completo, afinal, os Três Mosqueteiros são quatro! E tanto eu como meu marido acreditamos que nossos filhos farão o mesmo quando inaugurarem suas famílias. A união, o amor e a cumplicidade são os pilares que sustentam e equilíbrio da célula principal da sociedade: a família.

Andréa Feder do Nascimento

Gostaria de lembrar aos que estão lendo esse depoimento de uma amiga e cliente que inaugurou sua família comigo e até hoje é minha parceira por confiar cegamente seus filhos a mim e minha amiga que, hoje, um bebê de oito meses foi encontrado morto de fome em casa ao lado de seus dois irmãos pequenos desnutridos. Segundo o jornal que noticiou essa tragédia, a mãe teria saído de casa para tentar localizar o pai e informar o ocorrido. Já a vizinhança diz que foram vários dias de choro até o momento da morte do pequeno.

Parir é fácil. Inaugurar e gerir famílias, dando o básico e essencial é para poucos. Mas todos podem mudar. Pensem no futuro do nosso País... Ele precisa começar com pilares fortes e nele se sustentar.


Se você tem alguma história, experiência ou tema que queira abordar e compartilhar conosco, por favor, envie-nos. Deixe seu comentário e entraremos em contato com você para a publicação no nosso espaço que é seu, acima de tudo.

Um abraço,

Pedro Angelo

Um comentário:

  1. Adorei sua historia Andréa.
    Mts vezes colocamos nossas frustções para simplesmente justificar nossos erros, ao invéz de passarmos por cima disso para sermos pessoas melhores para nossos filhos. Eles não merecem ter uma família desistruturada se um de nós tivemos, podemos fazer um futuro melhor,escolhas melhores,tudo diferente para que não sejam crianças frustadas, para que mais tarde não aconteça isso,"poxa,meu pai nunca esteve do meu lado para me dar um boa noite", "minha mãe nunca me fez um carinho". Acho uma frase mt boa para isso "Não faça com os outros o que vc não gostaria que fizesse com você".Assim vamos vivenciando a cada dia, para aprender com os erros não só nossos, como os dos outros.Eu agradeço todos os dias por ter me tornado mãe(mesmo sendo mãe precocemente), minha filha é tudo na minha vida, e o que eu e meu marido pudermos fazer de diferente, para que ela não passe pelo que nós passamos iremos fazer.
    Boa Noite.

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