quinta-feira, 26 de maio de 2011

Bullying


"Quando eu era pequena, era chamada de baleia. Morria de vergonha dos meus amigos. Emagreci, passei fome, até remédios para perder apetite pesados eu tomei. E ao invés de me tornar uma pessoa "normal" eu passei a ser chamada de "baleia desnutrida" Hoje, carrego comigo o trauma de ser gorda e me pergunto se vale a pena mudar já que eu tentei me livrar do problema e ele, apenas, mudou de nome... O peso na alma continuou o mesmo..." (Depoimento de uma amiga, de 48 anos, que sofreu preconceito por ser acima do peso, o que hoje em dia chamamos de Bullying)

Ontem, os deputados da ALERJ discutiram em convocação aberta ao público os malefícios do Bullying. O Deputado Estadual Comte Bittencourt encabeçou esta convocação sobre um assunto que, ele como educador, conhece muito bem, assim como eu, pediatra. Debates como estes devem ser estimulados não só na esfera governamental, mas nas escolas. E devem ser levados ao conhecimento da sociedade.

O relato com o qual comecei meu texto de hoje mostra claramente a dor de uma pessoa e o trauma que uma brincadeira inocente de infância causou. Para muitos, uma bobagem, mas tivemos recentemente o caso da chacina de Realengo, cujo autor sofrera bullying na infância, tendo sua cabeça colocada num vaso sanitário e a descarga dada por colegas da escola. Uma criança tratada dessa maneira por aqueles que deveriam ser seus amigos descontando, anos depois, em crianças inocentes que, sequer, conheciam esse rapaz e seu passado sofrido. Não justifica, mas nos ajuda a compreender.

Tecnicamente falando bullying é o termo usado para descrever atos de violência física e psicológica, intencionais praticado por indivíduo ou grupo de indivíduos, com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo ou grupo de indivíduos incapaz(es) de se defender. As vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões foram, em sua quase totalidade, assediadas no passado por sua turma de escola.

Pesquisas indicam que adolescentes agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido sugerido que uma deficiência em habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre subordinados podem ser particulares fatores de risco. Estudos adicionais têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser motivos para a prática do assédio escolar, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que os bullies sofram de qualquer déficit de autoestima.Outros pesquisadores também identificaram a rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, o ato de encarar as ações de outros como hostis, a preocupação com a autoimagem e o empenho em ações obsessivas ou rígidas. Conseqüentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância:

"Se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne habitual. Realmente, há evidência documental que indica que a prática do assédio escolar durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta"

O assédio escolar não envolve necessariamente criminalidade ou violência. Por exemplo, o assédio escolar frequentemente funciona por meio de abuso psicológico ou verbal. Os bulliessempre existiram, mas eram (e ainda são) chamados em português de rufias, esfola-caras, brigões, acossadores, cabriões, avassaladores, valentões e verdugos. Os valentões costumam ser hostis, intolerantes e usar a força para resolver seus problemas.

Nós, tanto os responsáveis pelo Governo e Educação, mas também, médicos pediatras, psicólogos e psiquiatras, precisamos muito que os pais observem o comportamento de seus filhos de perto. Todo desvio de conduta considerada normal, como excesso de quietude, agressividade extrema, recusa a ir para a escola, medo, verdadeiras "almas atormentadas" se é que podemos colocar assim, mas para um melhor entendimento, pode ser um pedido silencioso de socorro ou uma forma de descobrirmos que, em casa, temos uma criança que sofre ou pratica o bullying. Todo cuidado é pouco. Por isso, vamos dar mais atenção às nossas crianças e cobrar das escolas uma atenção especial, uma comunicação imediata, antes que tenhamos adultos traumatizados e perigosos convivendo em sociedade e que possa ser tarde demais.

Um abraço,

Pedro Angelo

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